Por Amarílis Demartini
Pode suscitar dúvidas o fato de nos posicionarmos contra a liberação do aborto, por sermos um coletivo de mulheres e levando em conta que esta é apresentada como reivindicação feminina por certos grupos políticos. Por isso, achamos propício esclarecer nossa posição, expondo porque e de que forma somos contra o aborto.
Embora o aborto seja apontado pelos ditos grupos como uma escolha plausível para quem engravida no momento errado, em países onde esse método é liberado verifica-se que em grande parte dos casos o que ocorre é o oposto. A mulher não opta pelo aborto por “livre e espontânea” vontade, mas simplesmente por ter sido pressionada de diversas formas por amigos, familiares, pelo parceiro ou pelos patrões. Em casos mais trágicos, as circunstâncias em que a grávida está envolvida podem ser muito graves e difíceis de lidar, e ela acaba se decidindo sob um estado de forte abalo emocional, sem orientação nenhuma e sem saber a quem recorrer. Ou seja, é frequente que a mulher aborte porque se sente obrigada a abortar. Como isso poderia indicar liberdade de escolha? Não à toa, o arrependimento é comum entre mulheres que abortaram e as tentativas de suicídio são mais frequentes entre elas, sendo que muitas adquirem problemas psicológicos relacionados ao ato.
Além disso, as pesquisas apontam que a grande maioria das mulheres no nosso país é contrária à liberação do aborto. Sabendo disso e tendo em vista as consequências para a condição feminina observadas onde essa liberação ocorreu, nós entendemos que ela definitivamente não é uma reivindicação feminina.
Supondo, entretanto, que uma moça escolha abortar, há que se questionar a ética dessa escolha, tomada individualmente, quando (exceto em casos de estupro) o ato que resultou na concepção foi feito a dois, de forma consentida e consciente. Toda relação sexual normal pode levar a uma gravidez mesmo com o uso de contraceptivos, pois eles nunca são cem por cento eficazes, e esse risco deve ser considerado. Assim, não seria justo que a decisão fosse tomada sem levar em conta a opinião do homem e, por vezes, à sua revelia.
A interrupção da gestação é um procedimento intrusivo e delicado, que pode deixar sequelas e até levar a óbito. Dependendo da gravidade dessas sequelas, uma nova gestação pode tornar-se inviável. Além disso, com a legalização, surgiria o negócio de clínicas de aborto, que é bastante lucrativo e no qual estas se tornam mais um agente para ludibriar e coagir a mulher.
Finalmente, entendemos que impedir o desenvolvimento de um ser perfeito e recém-gerado é, no mínimo, uma crueldade. A concepção é um momento belíssimo, emblemático e o ideal seria que toda criança viesse ao mundo desejada e querida. Se esta possibilidade estiver distante, no entanto, existem muito meios mais adequados e menos dolorosos de não parir do que um aborto. O primeiro deles é não engravidar, e o modo mais seguro de garantir isso é não ter relações sexuais. Sabemos o quanto o sexo é explorado em nossa sociedade e o quanto exigir isso das pessoas comuns seria fantasioso. Por isso, nos posicionamos a favor de que se informe às pessoas sexualmente ativas sobre os métodos anticoncepcionais e se lhes garanta acesso a eles, bem como às cirurgias de laqueadura e vasectomia nas redes de saúde pública e privada. Em alguns casos excepcionais, o aborto é justificável por ser um mal menor, como naqueles já previstos pela lei brasileira: caso de risco à vida da grávida, de anencefalia do feto ou de concepção decorrente de estupro; ressaltando que, neste último, a chamada “pílula do dia seguinte” seria uma opção mais apropriada.
Nós somos a favor da vida saudável em plenitude, temos disposição em apoiar os avanços científicos sendo para meios anticoncepcionais cada vez menos nocivos, diagnóstico dos problemas do feto nas primeiras semanas de gestação tal como seu tratamento, e principalmente para prevenir tais problemas, proporcionando exames com livre acesso e melhor acompanhamento da gestação de todas as mulheres para que se sintam mais seguras e confortáveis. Precisamos de atenção e melhorias para nossas mães e bebês, e não de um livre comércio de abortos...