Direita, Esquerda e a polêmica dos shortinhos

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Nessa semana, portais de notícias tidos como sérios noticiaram um protesto realizado por algumas meninas de um caro colégio particular de Porto Alegre. Elas não protestavam por mais bolsas para alunos pobres, nem pela melhoria da educação no Brasil, e é certo que, fosse esse o caso, os respeitabilíssimos órgãos de mídia mencionados não dariam uma palavra a respeito. A mobilização das garotas, que consistiu numa petição virtual aberta endereçada à direção do colégio e num ato com cartazes na quadra do colégio, era para terem permissão de usar shortinhos na escola. Com toda a importância dada ao episódio, muita discussão se seguiu e nós vamos aqui nos abster de dizer o óbvio sobre uniformes e adolescentes, nos concentrando na péssima argumentação vinda das esquerdas e direitas.
Parte da direita se alinha com a nova esquerda a favor da manifestação, usando os mesmíssimos argumentos individualistas. A outra parte, que se diz conservadora, indignou-se e lançou textos críticos, como foi o do blog “Reacionário”, mas essa direita é incoerente e falha em ver aquilo que está debaixo do seu nariz. Partindo do texto do “Reacionário”, vamos apontar resumidamente porque essa direita está errada:

· Defende o capitalismo e o consumismo. Que espécie de imbecil aparece para dizer que defende o consumismo?! É precisamente a sociedade de consumo que pariu os degenerados que os reacionários aí fingem condenar: pessoas que se guiam pelo valor do que compram e não do que são.

· "Países civilizados"! Seria engraçado, se não fosse triste, alguém usando essa terminologia depois de a ideologia progressista ocidental ter fracassado tão estrondosamente. Aí apresentam fotos de outros países, onde supostamente o uniforme escolar é bom porque é como o das “escolas de elite” pelo mundo. Sem entrar na questão de qual era o clima quando as fotos apresentadas foram tiradas, eles não conseguem pensar por si e defender algo coerente com as populações brasileiras sem ter que se apoiar no que vem de fora? Esses direitistas reclamam do Brasil o tempo todo, um Brasil que certamente não conhecem, e uns ainda tem a cara de pau de se dizer nacionalistas. Se os anglo-saxões são modelos para eles, que saibam que são precisamente as nações anglo-saxãs, principalmente os EUA, que fomentam o feminismo ultramoderno e todo tipo de bizarrice atual, e que nos seus "países civilizados" a libertinagem é muito maior que aqui. A vasta maioria da nossa população discorda violentamente das patricinhas da petição ou então tem coisas muito mais importantes para se preocupar.

· Daí o texto diz que “As escolas públicas da periferia costumam permitir tudo” e que os pais não compreendem mais seu papel. Respondemos: as escolas públicas da periferia não permitem tudo por vontade dos gestores ou algo do tipo, nem porque são do Brasil, nem por causa da "doutrinação ideológica marxista". As escolas públicas são palco de tanta coisa ruim porque estas escolas estão precarizadas e impotentes diante da situação política e social, e porque elas atendem gente pobre, que vive na miséria em vários sentidos. Miséria material e também cultural, ambas provenientes do avanço do liberalismo. É claro que os colégios particulares não estão livres da anticultura liberal, muito pelo contrário, e o que aconteceu em Porto Alegre é uma prova disso. Enquanto a hegemonia do liberalismo durar, os pais tendem mesmo a não compreender seu papel, porque o liberalismo quer aniquilar todos os papéis, a não ser o de escravo consumidor e o de senhor financista, mas sem que os primeiros tenham consciência do que são.

A esquerda, geralmente os trotskistas ou nova esquerda, é tão inconsciente da própria situação quanto a direita “conservadora”. Essa esquerda reage com os argumentos de sempre e também está errada:

· Proliferam comentários alegando que “as meninas tem que usar shortinho e a roupa que quiserem, até roupa nenhuma, porque não vão ficar passando calor” ou que “elas se vestem como quiserem e os homens não podem se assanhar para cima delas porque isso é objetificação da mulher”. Ainda afirmam que as mulheres, especialmente as mais velhas, que se colocam contra as roupas indecentes estão com inveja e ressentimento, porque teriam sido reprimidas e submissas ao machismo na juventude.
1. Ora, aí está bem evidente uma noção cara à doença antifeminina militante – a de que sempre que um homem deseja uma mulher, ele está inevitavelmente tratando-a como objeto sexual. Sendo que esse pseudofeminismo diz condenar a objetificação da mulher, a intenção implícita aí é a de acabar com toda a sexualidade masculina e consequentemente toda a sexualidade feminina heterossexual. Em suma, querem ser mais moralistas e fanáticas do que a mais fanática carola de igreja. Nós do MATRIA estamos contra a reificação, mas entendemos que o desejo sexual não é o fator determinante para que ela aconteça, e sim a atitude egoísta e materialista para com outra pessoa, que infelizmente é generalizada hoje, graças àquele "iluminado libertarismo" (de direita e de esquerda). Para que fique mais claro: falamos em reificação aqui no sentido de desprover do status de ser animado e merecedor de dignidade. O desejo sexual tem algo de animalesco sim, mas isso é natural e sadio, desde que esteja subordinado a outras instâncias (simbólicas, morais, sociais, religiosas, etc.) próprias do homem. O primeiro passo para difundir o desequilíbrio nesta relação foi dado precisamente pelos materialistas (de direita e de esquerda) que fizeram de tudo a seu alcance para enfraquecer no mundo moderno o precioso âmbito do supraindividual (que abrange as instâncias mais elevadas mencionadas). Vendo que o resultado foi desastroso, os “progressistas” querem ir mais além e eliminar a parte vil, que restou, e ficar no seu almejado vazio pós-humano, ao invés de restaurar o sexo à sua completude e ordem perfeita.
2. A maioria das roupas que as falsas feministas defendem hoje como liberdade foram desenhadas exatamente para provocar desejo sexual em um viés puramente material pelo corpo, ou seja, objetificar mulheres. Aí, elas defendem o uso dessas roupas em público (que grande liberdade, uau!) como se quem usa o fizesse sem quaisquer fins egocêntricos (lembrando que esses fins sempre passam pelos outros), e tentam anular o efeito externo para o qual foram projetadas. Nunca houve um mais temerário puritanismo do que esse que aspira capar mentalmente os homens! E nenhuma mulher em sã consciência deseja esse mundo capado. Tendo tudo isso em vista, é bastante óbvio que as mulheres, mais velhas ou mais jovens, que se posicionam contra esse desastre estão sendo mil vezes mais sexualmente libertas. Ah, outra coisa: Shorts jeans não é uma roupa confortável, nem fresca. Uma saia de algodão leve lá nos joelhos, por exemplo, é muito mais confortável para um dia de calor.

· Ainda há aqueles que apoiam a manifestação de Porto Alegre, porque vem de uma suposta “nova geração que trará mais respeito e paz para o mundo”. Não, pessoal: a "inovação" dessa sua "nova geração" é de séculos atrás e se chama liberalismo, e ele em nada aumentou o respeito, a ética ou a paz, apenas fez esvaziar o sentido desses conceitos extrapolando todas as práticas concretas nas quais eles se baseavam.

· Os ateus militantes dizem que “a culpa é dos cristãos”. Bem, toda sociedade tem comportamentos específicos com relação a vestimentas e acessórios, e não se pode ignorar que nós estamos em um país de ampla maioria cristã. Se você não se adapta aos modos dos cristãos e de jeito nenhum consegue viver sem desrespeitá-los o tempo todo, não há problema algum, vá viver longe deles com seu pessoal.

· Enfim, toda a argumentação desses esquerdistas é exaustivamente construída em torno de uma certa ideia de liberdade – a mais mesquinha possível, sempre negativa, sempre individualista. Essa "liberdade" é uma prisão sem conteúdo. A verdadeira liberdade é a liberdade dos povos, construída em comunidade!

A nossa intenção aqui é, portanto, aproveitar essa pequena polêmica dos shortinhos para demonstrar o quão estúpidas e inválidas são as velhas correntes políticas, que apesar de se apresentarem como conflitantes, estão sempre defendendo a hegemonia ocidental liberal em uníssono; o quão ambas estão rotas e despreparadas para fazer qualquer coisa válida e bela para o futuro. A Quarta Teoria Política é a única alternativa revolucionária no mundo pós-moderno. Aqueles, vindos da esquerda ou da direita, que se aperceberem da situação em que se encontram a tempo, acabarão do nosso lado. O resto será o inimigo a derrubar.




 
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